Foi divulgada na segunda-feira (11) a lista dos contemplados pela Bolsa Esportiva Atleta, Paratleta e Guia da Fundação Municipal de Esportes de Itajaí (FMEL), mais conhecida como Bolsa Atleta. A ata 08/2020 traz o nome e os valores que serão pagos a cada um dos atletas e o Itajaí Digital compilou todos os dados para analisar com exclusividade para seus leitores e chamaram atenção principalmente os dados relativos aos atletas que receberão bolsa para disputar os Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc) e o Parajasc.
Superintendente administrativo das fundações municipais e presidente da comissão avaliadora do programa, Normélio Pedro Weber, comemora que, mesmo com a crise provocada pelo coronavírus, o governo municipal conseguiu dar continuidade ao programa de bolsas. “Isso eu considero uma vitória, com uma pequena redução do valor, e principalmente porque é um ano em que as atividades estão todas suspensas. Os treinos estão todos suspensos e dificilmente vai haver competições estaduais esse ano”, comentou.
Mulheres estão em menor número
As mulheres estão em menor número porque o edital previa um número 21% inferior de vagas. Sem considerar o paradesporto, já que não há para essa modalidade a separação por gênero, o número de vagas para mulheres no edital era de 163 contra 207 vagas para homens em todas as modalidades e competições. Considerando apenas o Jasc, a diferença é de 19%.
Além de ter menos oferta de vagas no quadro de beneficiários do programa para as competições, a média de valores das bolsas destinadas às mulheres para Jasc/Parajasc é quase 13% inferior à dos homens. Entre os 10 beneficiários que receberão os maiores valores, há apenas uma mulher, justamente na décima posição, recebendo 32% menos que o primeiro homem da lista. O presidente da comissão avaliadora explica que a diferença acontece por conta do número de inscrições, das categorias, e das atletas em atividade no município.
Para a doutora em psicologia Marina Corbetta Benedet, isso é o reflexo das diferenças de gênero que estão incluídas em tudo na nossa sociedade. Ela reconhece que existem diferenças de rendimento no esporte competitivo, mas acredita que o incentivo desigual acaba prejudicando a própria formação das atletas.
“É reconhecido que há maior ênfase dada aos esportes na categoria masculino do que do esporte na categoria feminino. Basta olhar o futebol, que mesmo que tenhamos um excelente time de futebol de campo feminino, dificilmente lembramos de nomes das jogadoras dessa modalidade. Porém somos capazes de lembrar de nomes de jogadores de outras décadas (e até século) do futebol masculino.”, comentou a professora.
Quadro extraído do edital.
Diferenças na mesma modalidade
Analisando os dados para essas competições, percebe-se que há uma grande discrepância entre os valores pagos a atletas da mesma modalidade. A maior diferença é no Judô, que tem atletas que foram aprovados para receber R$280,00 mensais e outro R$1.260,00 sendo o único entre os 183 atletas do Jasc/Parajasc com esse valor. No handebol, há atletas com R$280,00 e outros com R$1.120,00 e, embora as diferenças sejam menores em algumas modalidades, em apenas quatro delas todos os atletas receberão valores iguais.
A justificativa dada por Normélio é que existe um quadro de avaliação do desempenho esportivo de cada atleta, representado pela tabela abaixo.
Tabela reproduzida exatamente como disponível na plataforma de divulgação da legislação municipal.
Curiosamente, a classificação de acordo com essa tabela não tem correlação com a pontuação dos atletas divulgada na ata dos resultados. A lista mostra que alguns atletas que receberão os maiores benefícios não serão os que mais pontuaram. O profissional mais bem pago, Phelipe André Pelim, do judô, teve pontuação 17 no quadro de classificação, mas receberá 22% a mais que o segundo mais bem pago da modalidade, João Paulo Gonçalves, que somou 21 pontos na classificação.
Lista por ordem dos maiores pontuadores na classificação.
De acordo com Normélio, essa diferença acontece porque o decreto municipal prevê uma bonificação caso o atleta seja convocado para a seleção brasileira da modalidade e a pontuação para classificação não utiliza o mesmo critério das bonificações previstas no decreto municipal. Os indicadores que fizeram parte do cálculo dos valores não foram divulgados junto com o resultado.
Os valores por atleta de cada modalidade ficaram assim:
- Atletismo (de R$437,50 a R$980,00)
- Basquete (de R$280,00 a R$490,00)
- Futsal (de R$280,00 a R$350,00)
- Ginástica artística (R$490,00)
- Handebol (de R$280,00 a R$1.120,00)
- Judô (de R$280,00 a R$1.260,00)
- Karatê (de R$280,00 a R$595,00)
- Natação (de R$280,00 a R$910,00)
- Paradesporto (de R$280,00 a R$980,00)
- Taekwondo (de R$280,00 a R$630,00)
- Tênis de campo (R$490,00)
- Triatlo (R$490,00)
- Voleibol (de R$280,00 a R$630,00)
- Xadrez (R$280,00)
Sem atletas de fora
Um destaque neste ano foi a mudança no regulamento do programa para permitir a participação apenas de atletas que residem em Itajaí, a fim de realmente estimular a formação de atletas no município em vez de priorizar os resultados nas competições. “É um edital que quer valorizar os atletas da cidade”, explicou Normélio, e continuou dizendo que “todos tiveram que apresentar comprovante de residência no município para poder participar da disputa por uma dessas vagas oferecidas no edital”.
Segundo o dirigente das fundações este é um avanço porque a política pública no esporte não deve priorizar o alto rendimento e sim dar oportunidades para quem tem habilidade para ser atleta conseguir concretizar seus sonhos. “Talvez a gente se torne menos competitivo. Talvez a gente não consiga ganhar os Jogos Abertos. […] Claro que é muito bom ser campeão, mas é muito melhor ser campeão com atletas todos formados pelos nossos técnicos e moradores de Itajaí”, disse o superintendente.
[…]
3.2 Para pleitear o Bolsa Esportiva, os atletas, paratletas e guias deverão comprovar residência (através de Comprovante de Residência) e treinamento (através de Declaração de Treinamento emitida pelo Treinador das respectiva modalidade- anexo 03) no município de Itajaí.
[…]
Custos totais
Ao longo dos sete meses de duração da bolsa, a Prefeitura de Itajaí vai desembolsar um total de R$599.637,50 com Jasc/Parajasc, R$165.620,00 com os Joguinhos Abertos e R$47.701,50 com a Olesc, num total de R$812.959,00 já considerando as reduções por conta da pandemia da covid-19.
Confira os valores por modalidade (somente Jasc/Parajasc):
- Paradesporto R$201.512,50
- Handebol R$103.880,00
- Judô R$61.250,00
- Taekwondo R$42.140,00
- Natação R$41.160,00
- Atletismo R$30.870,00
- Basquete R$28.420,00
- Voleibol R$25.480,00
- Futsal R$24.010,00
- Ginástica Artística R$13.720,00
- Tênis de Campo R$10.290,00
- Karatê R$9.555,00
- Xadrez R$3.920,00
- Triatlo R$3.430,00
Regulamentações
- O decreto municipal 11.812/2019 prevê os limites para cada categoria e competição.
- O valor de 1 UFM (R$ 179,47) foi definido pelo Decreto 11.775/2019 e tem vigência para todo o ano de 2020.
- Redução dos valores do benefício foi determinada pelo decreto 11.897/2020, que ainda não está disponível para consulta no site do município nem no leismunicipais.com.br.
Obs: Todos os valores citados já estão considerando a redução por conta da necessidade da Prefeitura de Itajaí de alocar recursos para a saúde em função da pandemia do coronavírus, de acordo com o decreto municipal.
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